Você já imaginou andar de bicicleta pelo céu ou praticar esqui aquático, mesmo sem nunca ter feito isso antes?

A imaginação é uma das habilidades humanas mais essenciais e nos permite criar imagens mentais de coisas que não existem na realidade. Mas de onde essa habilidade veio?

O neurocientista Andrey Vyshedskiy estuda como as crianças adquirem a imaginação e está particularmente interessado nos mecanismos neurológicos por trás dessa habilidade.

Ele explica que, identificando as estruturas cerebrais e conexões necessárias para construir novos objetos e cenas, é possível olhar para a evolução e entender como essas áreas do cérebro surgiram e potencialmente deram origem aos primeiros tipos de imaginação.

A evolução da imaginação começa com os mamíferos. Há cerca de 200 milhões de anos, os ancestrais dos mamíferos desenvolveram um novo sistema para memorizar eficientemente lugares onde encontravam comida.

Eles ligaram a parte do cérebro que registra os aspectos sensoriais do ambiente – como um local parece ou cheira – à parte do cérebro que controla a navegação, codificando as características do ambiente no neocórtex, a camada mais externa do cérebro.

A navegação foi codificada no córtex entorrinal e todo o sistema foi interconectado pelo hipocampo.

A partir desse sistema de memória, os mamíferos adquiriram a capacidade de relembrar objetos e eventos passados. A capacidade de construir uma “memória” que nunca aconteceu, porém, veio mais tarde.

A forma mais simples de imaginar novos objetos e cenas ocorre durante os sonhos, em que imagens vívidas e bizarras são criadas involuntariamente.

Os cientistas acreditam que os mamíferos também sonham e que soluções encontradas durante o sono podem ajudar a resolver problemas.

Vários exemplos de soluções científicas e de engenharia foram visualizadas espontaneamente durante o sono.

O neurocientista Otto Loewi sonhou com um experimento que comprovou que impulsos nervosos são transmitidos quimicamente e imediatamente foi ao laboratório para executá-lo. Ele mais tarde recebeu o Prêmio Nobel por essa descoberta.

O próximo passo na evolução da imaginação foi a capacidade de construir uma imagem mental de algo que nunca aconteceu.

Essa habilidade é chamada de síntese pré-frontal e depende da capacidade do córtex pré-frontal, localizado na parte da frente do cérebro, de controlar o resto do neocórtex.

Artefatos datados antes de 70.000 anos atrás poderiam ter sido feitos por criadores que não possuíam essa capacidade.

No entanto, a partir dessa época, começaram a surgir vários artefatos arqueológicos que indicam claramente a presença dessa habilidade, incluindo objetos figurativos compostos, instrumentos musicais e flechas.

Essa mudança na imaginação foi caracterizada pelo historiador Yuval Harari como a “revolução cognitiva”.

Notavelmente, ela coincide aproximadamente com a maior migração de Homo sapiens para fora da África.

Análises genéticas sugerem que alguns indivíduos adquiriram a capacidade de síntese pré-frontal e depois espalharam seus genes amplamente, eliminando outros homens contemporâneos com o uso de estratégias habilitadas pela imaginação e novas armas.

Isso levou a uma explosão na criatividade humana, levando à invenção de novas ferramentas, construção de habitações e arte, e a capacidade de contar histórias.

A imaginação não é apenas uma habilidade essencial para a criatividade e a inovação, mas também para a tomada de decisões.

Quando pensamos em um problema e imaginamos uma solução, estamos usando essa habilidade para simular possíveis resultados e escolher a melhor opção.

O estudo da evolução da imaginação pode ajudar a entender a natureza humana e como nossas mentes se desenvolveram ao longo do tempo.

Como essa habilidade evoluirá no futuro, à medida que continuamos a avançar em tecnologia e ciência, ainda é uma questão em aberto.

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