Os “círculos de fadas” são manchas de terra nua regularmente espalhadas por pastagens áridas. Cientistas descreveram pela primeira vez esses círculos na Namíbia nos anos 70, desencadeando um debate global na comunidade científica sobre as causas do fenômeno.
Em 2016, um grupo de cientistas concluiu que, no Pilbara australiano, os “círculos de fadas” surgiram a partir de plantas de spinifex competindo por água e nutrientes – uma explicação semelhante à que eles propuseram para os círculos de fadas na Namíbia.
Essas histórias foram ampliadas pela mídia, mas as vozes dos povos aborígenes do deserto não foram relatadas.
Em um estudo publicado na Nature Ecology & Evolution, pesquisadores mostram o que seus coautores aborígenes sempre souberam – que os “círculos de fadas” nos Desertos Ocidentais da Austrália são “pavimentos” planos e duros habitados por térmitas do spinifex (espécies Drepanotermes).
Os aborígenes vivem no Deserto Ocidental da Austrália, incluindo o Pilbara, há pelo menos 50.000 anos e conhecem profundamente seu território. Eles fazem parte de uma equipe de pesquisadores intercultural que inclui pessoas do deserto ocidental e cientistas.
Os aborígenes chamam os pavimentos de “linyji” e as térmitas de spinifex de “Warturnuma”. Os pavimentos são usados para debulhar sementes e as térmitas voadoras são alimentos valorizados. Para os aborígenes, as térmitas são como parentes, e os pavimentos têm profundo significado espiritual.
O conhecimento sobre os pavimentos e as térmitas é compartilhado e transmitido de geração em geração pelos aborígenes. A pesquisa intercultural levou a descobertas inesperadas, como o fato de que os pavimentos retêm água depois de grandes chuvas, o que era desconhecido pelos cientistas até então.
Ouvir as vozes aborígenes melhorou a compreensão dos pesquisadores sobre o funcionamento do deserto, um ecossistema muitas vezes negligenciado e mal compreendido pela população australiana.
O estudo destaca a importância de se fortalecer a relação com o país e trabalhar de forma equitativa e bilateral com as comunidades indígenas.